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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Fenômeno Seje


Trial & error  - Gustav Kluge
Já faz algum tempo que se nota a presença incomoda do “verbete” “seje” em nosso cotidiano. Não que a língua portuguesa seja fácil, mas é quase deliberado o uso do “vocábulo”. Vez por outra ele é percebido em entrevistas, em novelas e pasmem, até mesmo vindo da boca de quem não devia – universitários, bacharéis, autoridades e políticos, só para citar alguns.

Tudo bem que é um verbo irregular e por isso tem um quê a mais de dificuldade, mas será que lá no coleginho da tia Tetéia não foi pelo menos uma vez conjugado? Ou lembrado mais recentemente?

O que impressiona é a quase forçada pronúncia do “seje”. Acredito que na maioria das vezes até o próprio interlocutor sinta certa estranheza ao proferi-lo. Mas, mesmo assim a utilização é reiterada. Exagero? Pesquisa rápida: Google: “seje”: 3,8 milhões de ocorrências. Ah, dentre elas temos as que corrigem o erro crasso. Novo exame: seje -seja -erro: 1,36 milhões! Se reparar bem, vai até notar alguns anúncios usando o “termo”! Nova busca: “seje” no Orkut, resultado, mais de 1000, entre elas 204 comunidades - claro que algumas são justamente – ainda bem - para criticar o uso errôneo da “palavra”.

Nem o YouTube escapa. Alguns vídeos achados: “Se for amor que seje verdadeiro” – vai ver o amor não é tão verdadeiro assim; “Viva e seje feliz” – será feliz e ignorante por toda a vida; “Seje vc um Rocky” – esse nunca será um Rocky; e até um assassinato de um verso de Vinicius de Moraes: “E que seje eterno enquanto dure” – com certeza alguma coisa vai durar pouco.

Uma explicação plausível para tanta incidência do equívoco é que no presente do subjuntivo o “e” final seja usado com bastante freqüência – desculpe-me pelo eco. Mas, essa desinência só ocorre – em regra – nos verbos da primeira conjugação, final “ar”. Ou seja, somente para verbos como estar, falar etc. Já os da segunda e terceira formam – não sei se há exceções – em “a” assim como o nosso seja.

O fato é que de tanto ouvir alguns menos letrados ou desatentos acabam se viciando no “seje” e o dão como certo. Um verdadeiro fenômeno. Fica uma dúvida será que existe erro verbal mais comum que esse?

Todos cometemos inúmeros erros, mas que esse “seje” único.

4 comentários:

Mariana disse...

Dois outros horríveis que ouço sempre, de gente que fez até faculdade!
- "Possa" ser que chova;
- Eu entendo "de que" a gente não deve ir;
A propo, que bom que vc me lê sempre! Que "seje" assim por muito tempo!

i disse...

E a morte do subjuntivo? Bom, você é do Rio, mas em São Paulo ele já é coisa do passado: Quer que eu venho? e Pra que você entende... e assim por diante!!!

Robertson Frizero disse...

O pior é que o "seje" está contaminando outros verbos parecidos... Já ouvi muita gente boa dizendo "esteje"... Bem, basta torcer que um texto como o teu não SEJA em vão e que nenhum gramático engraçadinho da escola do "preconceito lingüístico" venha defender a consolidação do problema...ou seria pobrema... ou plobrema?

Ivo Korytowski disse...

Posso citar um trecho do seu texto (com o devido crédito, claro!) num livro que estou preparando sobre erros de português? (ivokory@gmail.com)