Guilherme era alto, moreno, forte. Seus pais sempre o forçaram a ser médico, diante da insistência em não seguir a carreira, abriram mão até em favor da advocacia e da engenharia. Mas, não houve jeito Gui queria ser administrador.
O pai achava que seguir administração era para ricos ou para quem nada queria fazer ou ainda por quem não sabia por onde seguir. Farmacêutico frustrado, pois tentou a medicina. Mas, além do valor intelectual não ajudar muito, a carreira exigiria um investimento que dispunha já que vinha de família pobre. Não desejava o mesmo para os netos, já passara muita dificuldade na infância e adolescência. O filho optando por outra carreira o desapontou fortemente e quase o pôs para fora de casa. Fora muito rígido com ele e desde o conhecimento da opção dele jamais o tratara da mesma forma. Foi diante desse panorama que o jovem seguiu sua vocação, como ele mesmo dizia a todos.
Lutou muito para conseguir seu primeiro trabalho, conseguiu, tempos depois de seus colegas de faculdade e de ginásio, um pequeno estágio. Nessa própria empresa era meio desacreditado como profissional, não havia feitos cursos extracurriculares e isso o punha em desvantagem em relação aos outros. Seu maior mérito era o brilho dos olhos e uma perseverança fora do comum. De família judia, porém pobre, coisa rara, Gui sempre teve grandes ambições. Levou a sério consigo a missão de ter muito dinheiro.
Mulherengo sabia como conquistar as meninas, seu porte e sua aparência e olhos azuis ajudavam. Aliás, foi assim que conseguiu sua primeira grande chance, paquerou uma mulher bem mais velha de uma grande empresa. Ela teve papel fundamental nessa escalada, pois além de lhe avisar sobre um processo seletivo pouco divulgado deu-lhe uma “forcinha” nas entrevistas. Pouco antes de sua contratação ela disse-lhe: “Faça sua parte que eu te coloco lá dentro”. Depois saíram algumas vezes, mas ela já calejada notara que ele não era homem para algo mais sólido. A diferença de idade, doze anos, não fazia tanto peso, mas Guilherme queria outras coisas.
Anos mais tarde, o rapaz já estava numa posição de relativo destaque no mercado e traçava todas as meninas. Sabia que o dinheiro, o carro e o apartamento recém-comprado faziam bem o papel para que as moças o desejassem, e valia-se disso.
Mas, isso foi até o dia que conheceu Marina. Ela surgiu por acaso em sua vida, fazia muito tempo que tentava na academia que freqüentava conquistar uma loirinha, pequena e muito bem torneada. Sempre que olhava para sua bundinha ficava louco. Mas, eis que em uma dessas festas que algumas academias promovem, ele foi na intenção de finalmente encontrá-la. Achava que tinha mais chances fora daquele ambiente viciado. Contudo, em meio a uma multidão procurou-a, encontrou-a, mas junto também achou a amiga dela, a Marina. Na verdade, um grupo inteiro de mulheres maravilhosas. Entretanto seus olhos pararam nela. Foi com tudo para cima, e alguns momentos de resistência depois ele já a estava beijando. Não fora um ósculo apaixonante, mas o prazer pela conquista falara mais alto. Mari era alta, loura, olhos azuis assim como os seus e chamava muito a atenção pelo sorriso claro e límpido. Simpática e inteligente, também era uma boa conversa para horas. Engataram um relacionamento de três anos.
Mas, todos nós pensamos que a priori serão tudo maravilhas no relacionamento. Infelizmente não, após o primeiro ano seus contatos esfriaram, na verdade nunca nada fora intenso. A relação sexual entre eles era confusa, ela nunca o procurava e às vezes à noite parecia que se conflagravam verdadeiros estupros. Havia o consentimento dela é claro, mas sem nenhuma ponta de desejo. Ele tão caloroso, se via frustrado. Gostava muito de sexo e aquilo o incomodava. Sentia um carinho enorme por ela. Mas sua vida tinha se alterado completamente depois dela. Sua carreira continuava em alto estilo – até melhorara – mas a insatisfação tomava conta. Outra coisa que não gostava naquele relacionamento era a falta de vontade dela em ter filhos no futuro. Contudo, isso achava que poderia ser alterado mais para frente, pois até a família dela o apoiava. No entanto a escassez de sexo o afligia cada vez mais. Tentava fugir das tentações como medo de magoá-la, mas não havia jeito, tinha que dar vazão àquele desejo carnal. Demorou a praticar o primeiro “adultério” – não eram casados, mas viviam juntos. Somente após mais ou menos vinte meses a traiu pela primeira vez, e foi com aquela gerente que a tinha dado uma ajuda em seu primeiro grande emprego – mantinha sempre os bons contatos.
Depois daí passou a buscar outras e a freqüência aumentou até que se decidiu a desfazer do que o estava incomodando tanto. Após várias conversas, não tão diretas, mas que o foco era sempre a exigência da presença dela e escapadas pela tangente por conta de Mari, ele decidiu mudar o rumo de sua vida. Largou-a muito ressentido, mas buscou seu prazer. Não podia viver com uma mulher que não o completasse como homem. E que a seu ver era a mais fugidia das mulheres que encontrara em toda a sua vida. Terminou o “namoro” e foi ter-se com uma paulistana fogosa. Entretanto, não deu certo, essa nova mulher era só sexo, e muito bom – toda vez agradecia aos céus. Que seja dito, as conversas pouco existiam. A outra coisa que o prendia a ela, era a exuberância de seu corpo e rosto era de parar o trânsito. Isso o fazia bem, dava-lhe orgulho. A propósito, Guilherme desde sua grande ascensão profissional fora tomado por uma soberba que o atrapalhou de ver o mundo de uma forma mais isenta. Seu mundinho se restringiu a ternos, carro, dinheiro, festas, restaurantes caros e esbanjar. Foi o seu maior erro, pois apesar de ganhar muito, seu patrimônio pouco fora aumentado em todos os últimos anos.
terça-feira, 29 de maio de 2007
Contos Contíguos – capítulo III – Guilherme
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