Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor -
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Fernando Pessoa (heterônimo: Alberto Caeiro)
domingo, 3 de junho de 2007
Quando Eu
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2 comentários:
Fernando Pessoa é um clássico dos últimos românticos... Bonito de doer.
Fernando Pessoa não era um romântico... Sua visão de amor é mais visceral, menos épica, mais profunda e sentimental, sem sentimentalismos.
Fernando Pessoa é poesia em língua portuguesa como poucas. Quando o leio, tenho a sensação de que qualquer vírgula que se apagasse, desabaria a perfeição de seus poemas.
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