Vivo num prostíbulo, na verdade um local que abriga meretrizes seria o mais certo. Estão lá mais quinze mulheres. É uma casa enorme. São seis quartos. A toda hora tem gente em casa. Elas passeiam nuas ou só de calcinha, já nem se importam mais com a minha presença. Na verdade, nem todas fazem isso, têm duas que jamais admitiram passar na minha frente sem roupa. Acham que podem perder o meu respeito ou sei lá o quê.
Quase todas são lindas, algumas nem tanto, mas seus corpos chamam a atenção de qualquer um. Já tive caso com três delas e sinceramente não posso dizer que me arrependi, foram experiências memoráveis. Nunca passaram de amigas ou “amantes”.
A todos os homens que conto sinto uma ponta de inveja e trato logo de dizer que não é tão bom assim – claro que ruim também não é. Vejamos ver mulheres nuas ou seminuas não é ruim, ainda mais diante do padrão que tem lá em casa. Mas, por outro lado, nunca posso dizer onde moro para mulheres, principalmente as que me interessam ou com quem saio eventualmente. Namorar então é bastante complicado. Qual a mulher sensata que não vai implicar com a situação?
Minha situação com as meninas é amistosa, sou o mais antigo morador dessa república. Não são permitidas festas, namoros ou orgias, embora todos saibamos que todas trabalham na noite - com sexo. Tudo começou lá atrás em 1998, quando fazia faculdade e aluguei eu e mais seis colegas – todos homens – a mansão – como costumávamos chamar. Além de mim, mais cinco estudávamos todos na mesma universidade. O outro era um amigo que fazia engenharia em outra instituição. Aliás, somente eu que insisti na área de humanas – péssima idéia – todos eram da área de exatas. Bem, o tempo foi passando fomos aos poucos se formando e arrumando trabalho, digo, eu não, fazia um estágio chinfrim – hoje vivo de frilas - mas era tudo que tinha conseguido e com muito esforço. Vendo o cerco apertar, fui comentando que quem fosse sair que arrumasse alguém para sucedê-lo para que os demais não ficassem na pindaíba. Esse era o trato! A totalidade original saiu, exceto eu, o ferrado e mal-pago. Sei que em um dado momento os grupos foram se modificando até que de uma só vez uma galera saiu e por um contato numa termas, fizeram um ajuste que acolheu essas meninas em casa.
De início achei uma maravilha, todas desinibidas, carinhosas, carentes e que falavam comigo já me provocando, algumas com selinhos, outras com abraços e esfregadas mais travessas. Aos poucos aquilo foi me deixando louco. Nem saía mais de casa. Sair para quê se o paraíso estava lá? Era ficar no corredor ou na ante-sala e apreciar as vistas e desfrutar dos carinhos. Nessas horas me sentia um sheik árabe com suas concubinas.
Não demorou muito para que algumas me tirassem um pouco mais do sério e acabassem num motel. Mas foram poucas, as duas primeiras foram sensacionais. Muito amor, pouco compromisso e muito suor. A terceira foi ótima, exceto por um pequeno grande detalhe. Ao acordarmos no dia seguinte da noite de prazer, ela disse: “são duzentos reais”. Pensei que fosse brincadeira, afinal nem passou pela minha cabeça ter contratado tal serviço. Ela insistiu. Falei então que não pagaria e que a diversão tinha sido boa e igual para os dois. Fechou a cara, levei-a de volta e nunca mais nos falamos direito. Depois disso evitei e continuo evitando ao máximo encontros com qualquer uma delas.
Entre as meninas também existem as engraçadinhas, as que provocam, vão até o meu quarto, nuas ou quase e perguntam: “O que você acha? Estou bem?”. Desgraçadas, só para me provocar! Saem depois rindo, pois sabem muito bem minha resposta e qual é o meu olhar. Acho que nunca vou me acostumar a ver mulheres bonitas, nuas e não ficar balançado.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
No meio do paraíso I – Impossível se acostumar
domingo, 29 de abril de 2007
Acanalhados
Miranda nunca a tivera, nem nunca a vira, assim tão violenta no prazer. Estranhou-a. Afigurou-se-lhe estar nos braços de uma amante apaixonada: descobriu nela o capitoso encanto com que nos embebedam as cortesãs amestradas na ciência do gozo venéreo. Descobriu-lhe no cheiro da pele e no cheiro dos cabelos perfumes que nunca lhe sentira; notou-lhe outro hálito, outro som nos gemidos e nos suspiros. E gozou-a, gozou-a loucamente, com delírio, com verdadeira satisfação de animal no cio.
E ela também, ela também gozou, estimulada por aquela circunstância picante do ressentimento que os desunia; gozou a desonestidade daquele ato que a ambos acanalhava aos olhos um do outro; estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunhindo, debaixo daquele seu inimigo odiado, achando-o também agora, como homem, melhor que nunca, sufocando-o nos seus braços nus, metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa. Depois, um arranco de corpo inteiro, com um soluço gutural e estrangulado, arquejante e convulsa, estatelou-se num abandono de pernas e braços abertos, a cabeça para o lado, os olhos moribundos e chorosos, toda ela agonizante, como se a tivessem crucificado na cama.
A partir dessa noite, da qual só pela manhã o Miranda se retirou do quarto da mulher, estabeleceu-se entre eles o hábito de uma felicidade sexual, tão completa como ainda não a tinham desfrutado, posto que no íntimo de cada um persistisse contra o outro a mesma repugnância moral em nada enfraquecida.
Durante dez anos viveram muito bem casados; agora, porém, tanto tempo depois da primeira infidelidade conjugal, e agora que o negociante já não era acometido tão freqüentemente por aquelas crises que o arrojavam fora de horas ao dormitório de Dona Estela; agora, eis que a leviana parecia disposta a reincidir na culpa, dando corda aos caixeiros do marido, na ocasião em que estes subiam para almoçar ou jantar.
Trecho de "O Cortiço" – Obra de Aluísio de Azevedo – Publicado em 1890.
sexta-feira, 27 de abril de 2007
Los Amantes
Abraçados. As mãos passeiam tentando descobrir seu corpo. Deslizam pelas costas. Alojam-se na cintura onde tomam impulso e puxam contra si. Indóceis vão e voltam. Param no pescoço para um carinho.
Os beijos fumegam. Os braços fazem força e tracionam com mais violência. Descabelam-se num desvairo de amor e tesão. Os sexos se projetam buscando mais prazeres, se esfregam. As coxas estão embaralhadas. Os apertos são lúbricos. Os desejos, os murmúrios, agora surgem gemidos. Ainda são tímidos, estão na rua. Os gestos são contidos pelo pudor, mas a sensação e o apetite traduzem vontades.
Aos poucos as mãos entrelaçadas se separam. É hora de ir embora. Até o próximo encontro. Até qualquer dia.
Como uma onda
As ondas vão e vêm. Primeiros foram as ninfos, depois as doces. Passou-se um tempo e vieram as quietinhas. Mais tarde, as advogadas e logo em seguida as cybergirls. As morenas seguidas das louras. As ciumentas e as apaixonadas. As carinhosas foram boas, e posteriormente as descoladas. As taurinas, quanto fogo! Finalmente as médicas, as supervaidosas e novamente as louras. Mais recentemente as virginianas. O que vem agora? O que virá depois?
Elas vêm e vão. Aquecem meu coração e meu corpo. Muitas não foram citadas. Mas a pergunta que fica é: como viver sem elas?
Big Brother is watching
Não é mais um programa de reality-show, a própria realidade é que é o show, ou viva o verbo “to show”.
Deu no jornal.
Na Alemanha, depois de 5 anos de instaladas em várias cidades - câmeras que flagram todos os movimentos de quem anda nas ruas - está sendo aberta uma conferência em Estrasburgo que discute suas conseqüências.
Em alguns casos, os aparelhinhos tratam de um controle policial que visa alertar e prevenir infrações – por mínimas que sejam – das pessoas que por ventura cometam algum delito – qualquer que seja.
Guardas monitoram os movimentos dos cidadãos e se avistam alguma irregularidade avisam por meio de alto-falantes acoplados às câmeras de que viram o que feito e pedem que desfaçam – caso seja possível – ou que automaticamente estão sendo autuados por atitude irregular / ilegal. O projeto – sistema igual também na Inglaterra - começou por causa dos atentados de 11 de setembro para prevenir contra atos terroristas, mas sua expansão e controle agora assustam.
É, George Orwell estava certo quando lançou o livro – que deu origem a um filme homônimo – 1984. O livro narra a história de uma sociedade totalmente dominada pelos controles externos – através de equipamentos de vídeo – onde o Big Boss tudo vê e tudo sabe. Aliás, é baseado nele que existe o programa da holandesa Endemol, os BBBs, brasileiros ou não.
Será que terei que me preocupar com isso no futuro? Como ficará meu chopp depois do trabalho? E a olhada mais lasciva àquela mulher que passa?
P.S.: Confesso que catei pela Internet, a matéria assistida na TV (Globo) que me levou a escrever este texto, mas não achei. Se alguma alma caridosa, passar por aqui e achar a reportagem / vídeo, por favor, deixe o link. Obrigado.
Sem endereço nem classe social definidos
Mais uma bala perdida. Sim, eu sei, qual a novidade nisso? Dessa vez, o “novo” fica por conta da classe social da vítima. Acostumados a ver / ler sobre incidentes de tiros a esmo que atingem os transeuntes – é incrível – mas, nem mais nos “emocionamos”. Mas, essa ocasião – de agora – deixa uma imagem diferente. Uma universitária, de boa aparência e também aparentemente de boa condição social e financeira é a nova vítima.
Trata-se da estudante e assistente de Publicidade, Juliana Pereira da Silva, 23 anos que passava com seu Celta na Estrada da Água Branca, em Realengo, por volta das 4h00min.
O cerco se fecha.
Assim como aconteceu com a AIDS que era só dos homossexuais libertinos e drogados, agora as balas perdidas não escolhem mais um “nicho de mercado”. Antes eram só os pobres, os miseráveis, os moradores das "comunidades" - de favela - e os desavisados que passavam por lugares ermos. Ou seja, eu, você e aquele seu amigo podemos ser os próximos! Quando o perigo está próximo nos sensibilizamos.
P.S.: sei que muito provavelmente não é a primeira vez que alguém da classe média, média-alta ou alta é atingida por esse tiros sem endereço, mas dessa vez o fato pareceu – para mim - estar mais perto.
Obs.: A figura é “Guernica” de Pablo Picasso. Sobre o bombardeio nazista de 26 de abril de 1937, ontem completou 70 anos. Algo me remete ao acontecido, pois vivemos num clima de terror.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Pessoas que não ouvem
Estou na minha casa de praia. Ao abrir a porta da cozinha, ouvi:
- Deixe a porta fechada.
- A cozinha está muito quente.
- A porta aberta faz uma corrente de ar aqui.
- Correntes de ar não fazem mal, acabei de ouvir isso do Dr. Drauzio.
- É, senão depois vou ficar doente.
Fechei a porta e fui embora. Porque tem pessoas que não ouvem pensei. Não é o caso de surdez, é simplesmente que não se prestam a dar ouvidos aos outros. São os reis da sabedoria, os grandiosos em seus castelos interiores e os presunçosos para o resto do mundo.
O pior surdo é aquele que não quer ouvir e se fecha em seus cômodos e em suas ignorâncias.